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Locutor Edinho Moreno & Amanda sobre Audiodescrição e Acessibilidade

Edinho Moreno é um locutor publicitário versátil e um audiodescritor atencioso. Nessa matéria VozUp, Edinho conta sobre como começou sua carreira como audiodescritor e como encara a doce responsabilidade de audiodescrever para um público tão fiel e com ótimos ouvidos.

Locutores Edinho Moreno e Amanda de Andrade conversam sobre audiodescrição e acessibilidade | Uma matéria VozUp

Amanda de Andrade: Edinho, é uma alegria poder conversar com você!
Edinho Moreno: Amanda, que bom poder bater esse papo aqui no VozUp! (risos)

Mundo da Audiodescrição

Amanda: Você já é muito conhecido por sua presença em comerciais e na publicidade, e mais recentemente você vem também se destacando na audiodescrição, em séries como “A casa de Papel” e “Toda a Luz que Não Podemos Ver”. Você poderia contar um pouco para nós como foi entrar no mundo da audiodescrição?

Edinho: Muito conhecido é um exagero carinhoso seu… A menos que seja pelo tempo de atuação. Eu dou trabalho pro microfone há 40 anos. Já gravei quase tudo: comerciais em diversas variações (caricato, cantando, gritado, sussurrado, triste, simpático, emocional…), vídeos de empresas, documentários, espetáculos, radio dramaturgia… Sim, cheguei a gravar rádio novela.

Acho que sou um bom ouvinte, o que facilita o processo todo. Tudo o que ouço é referência para alguma situação, alguma personagem. Porque, numa produção, minha voz não é mais minha, é de quem a ouve. É o produto, serviço, marca, falando para quem interessa.

A audiodescrição, eu acredito, foi uma aposta da Vox Mundi em mim. Era uma prática recente, e contava com a orientação, se não me engano, da Fundacão Dorina Nowill. Foi uma experiência com uma equipe bem afinada, e eu tive essa sorte, a de trabalhar com gente muito boa.

Tenho queridos amigos que não têm a limitação que a visão nos impõe. Falo assim baseando-me na frase e no título do livro do saudoso Serginho Sá: “Feche os olhos para ver melhor”. Eu recomendo a leitura.

Presenciei inúmeras situações com figuras de talento admirável. Eu conheci dois integrantes do grupo Titulares do Ritmo, um grupo vocal afinadíssimo, todos sem o sentido da visão. Outra pessoa é o Flavio Augusto, um mestre, maestro, um baita compositor e querido amigo, sábio de dar raiva, e com um humor super inteligente. Lembrei-me muito dessas pessoas ao encarar esse trabalho. Me ensinaram e continuam ensinando muito.

Como é feita a audiodescrição

Amanda: Que bonito, Edinho… Para você, a audiodescrição é muito mais do que um tipo de trabalho de voz. E justamente por causa da sua relação pessoal com a audiodescrição, eu queria saber se você tem um texto fixo para audiodescrever, ou se você tem certa liberdade. Na locução comercial, nós geralmente temos bastante liberdade dentro do brief, mas às vezes nos é dada ainda mais liberdade para sugerir mudanças, incluir cacos e até propor outras interpretações. Então existe espaço para interpretação e alteração de texto dentro da audiodescrição? Ou o roteiro é fixo?

Edinho: Bem, há um roteiro, assim como em qualquer trabalho que faço. O que é possível fazer é substituir algum termo, ou a ordem de uma frase para melhorar a compreensão. Há coisas que só ouvindo para saber se está claro, e isso nós só descobrimos no estúdio, quando estamos gravando.

Acredito que seja um timing, uma habilidade que a experiência em rádio nos dá. Não o trabalho de radialistas que dizem: “Vamos ouvir…” ou “Acabamos de ouvir…”. Mas a locução para rádio que consegue sintetizar uma mensagem em uma ou duas frases.

A entonação ainda é uma zona delicada nesse universo. No início, ficou determinado que não se demonstrasse nenhuma emoção, que fosse o mais flat possível, uma fala linear, o que chamei de voz de legenda. Mas se for para gravar uma “voz de legenda”, até os aplicativos de voz mecanizada podem fazer. Para mim, foi determinante atuar com uma dupla de diretores excelentes, Lia Alvin e João Abdala, que entenderam que havia espaço para um pouco, bem pouquinho, de interação com a obra.

Eu imaginei: a trilha sonora interage com a cena, os efeitos sonoros também… Não seria o caso de colorir um pouco a audiodescrição? Sem interferir na percepção do público, ou querer influenciar no gosto dele, mas procurando enriquecer a experiência…
Arrisquei, ou melhor, arriscamos. Podia ter sido desastroso, mas creio que deu certo.

Direção Artística e Audiodescrição

Amanda: Falando dos diretores Lia e João, quão importante é a direção artística para a audiodescrição? E como é o brief nesse tipo de projeto?

Edinho: A direção é fundamental. A Lia e o João não apenas dirigem, eles fazem o roteiro.
Antes de iniciarmos o trabalho, comentamos a obra, o elenco, a trilha, a direção, e até os fatos históricos (se for o caso). Confesso que é uma fase do trabalho de que gosto muito.
Não basta sair lendo. Tenho o estranho costume de ouvir o que leio, antes de falar. Não é muito fácil de explicar, mas, antes de falar, eu já “ouvi”. Sempre foi assim em tudo que gravei.
Outro detalhe importante é integrar todo mundo envolvido no resultado: engenheiro de som, o responsável pela mixagem e outros profissionais.
Não nos esqueçamos que nosso público ouve muito bem. E se emociona.

Amanda: Com certeza, e falando em se emocionar, fiquei sabendo que a repercussão do seu trabalho com audiodescrição tem emocionado esse público tão fiel e especial que precisa e aprecia a audiodescrição. Como você tem recebido esse feedback?

Edinho: Essa foi uma agradável surpresa! Li comentários no YouTube de pessoas que me identificaram e citaram meu trabalho em filmes e séries anteriores. É muito gratificante perceber que há uma sintonia, que há uma percepção da intenção, e eles captaram de alguma forma o que eu queria fazer.

Próximos projetos de Locução

Amanda: Por fim, eu queria saber sobre suas ideias para o futuro. Há algo que você ainda quer experimentar ou criar na sua carreira? Como você olha para seus próximos trabalhos?

Edinho: Eu gosto de dizer que meu melhor trabalho é o próximo.
No momento em que se trabalha com ideias, com criatividade, num mercado que precisa surpreender, a qualquer instante surge um desafio novo. Torço por isso.

Quando falei que já gravei quase de tudo como profissional de voz… Bem… São trabalhos que já fiz e estão feitos. São troféus, mas já são passado.
Não quero pensar que nossa atividade atingiu o limite de atuação.

Ainda há tudo a se fazer.

Esta entrevista ocorreu por meio de conversas e mensagens de voz entre a locutora Amanda de Andrade e o locutor Edinho Moreno, em Fevereiro de 2024 e foi transcrita e adaptada no corpo de texto acima.

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